28 de dezembro de 2011

Mito dos peixes

…..Quando eu era pequeno e pescava no Portinho, uma lagoa perto de casa, tinha um peixe que era o pavor da criançada: o bagre.
…..Nem sei exatamente se esse é o nome certo do peixe, alguns chamavam de jundiá, ou esse já é outro peixe? Só sei que ele aterrorizava a gente. Os malinhas queriam pegá-lo para esbanjarem coragem. Eu preferia pescar carás e outros peixes menos perigosos.
…..Infelizmente, eu fisguei um.
…..Ele nunca tinha me feito mal algum, mas eu já estava com medo. E o pior: se eu não tirasse ele do anzol, eu teria que parar de pescar. O meu medo era o esporão do bagre. Eu nunca tinha me machucado nele, mas sua fama era tanta, todos falavam que doía tanto, que eu tinha medo.
…..E agora, meu Deus?
…..Um amigo me ajudou. Ele tinha experiência nisso, porque ele já havia se machucado com aquele peixe. Pera aí! Ele que mais falava sobre a dor do esporão do peixe era o primeiro a se prontificar a tirar ele do anzol?
…..Eu nunca tinha me machucado com aquele peixe liso e escorregadio e temia a aparição dele, enquanto meu amigo que sempre descrevia com detalhes o quanto era perigoso tirar o bagre do anzol, fazia isso com facilidade! Quantas coisas não deixamos de fazer porque alguém falou algo sobre aquilo? Em quantos candidatos deixamos de votar? Quantas meninas deixamos de conhecer? Quantos cortes de cabelo e roupas deixamos de usar? E o pior, muitas vezes quem nos diz para não fazer ou usar é quem o faz, ou faz propaganda para valorizar o produto, já que mitificando o peixe, tirar ele do anzol se transformava num ato heroico.
…..Decidi, a partir daquele dia, que não teria mais medo ou receio das coisas porque alguém falou algo. Ganhei coragem.
…..Enquanto concluía isso, meu amigo estava com a mão vermelha de sangue e avisou que o próximo bagre que eu pegasse, eu mesmo tiraria.
…..Peguei meu caniço, minhas minhocas e fui embora.

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