4 de dezembro de 2010

O DIA F

     - Vamos ter que enfrentar os gigantes!
     Muitas aplaudiam e se entusiasmavam com o discurso da Rainha Elisabant. Outras estavam apavoradas. Era suicídio.
     - Há muito tempo que eles destroem nossas casas e também destroem os lugares onde nós poderíamos construir nossos lares. Eles nos pisam. Jogam água quente. Dizimam povoados inteiros por egoísmo. Nem para alimento nos utilizam. Mas eles vão ter que nos engolir!
     Agora estavam quase todas certas de que a revolta era o melhor. Quem não tinha ainda perdido uma irmã por culpa dos gigantes?
     - Aprenderam a andar em fila com a gente. Povo mal-educado. Lembram? Digam: eles lembram? Claro que não. Eles nos ignoram.
     Todas agora concordavam com a Rainha. Não era mais possível aguentar tanta humilhação.
     - Alguns deles até se especializaram em matar a gente. Outros estudam a vida  inteira para fabricar bombas de gás contra nosso povo. E nós, o que fazemos? Picamos? Uma picada tão fraca que muitas vezes uma das nossas morre enquanto o gigante apenas sente uma dorzinha… As nossas primas de oito patas metem medo neles, pois a picada de uma delas causa um baita estrago. E nós, o que temos? A união! Somos milhões! Somos uma família!
     A Rainha ficou satisfeita. A euforia invadiu o local como se estivessem num mar de açúcar. Chegou a hora, pediu para algumas operárias desenharem o mapa no teto do formigueiro.
     - Vejam, meu povo. Naquele ponto marcado com “F” será nossa base estratégica antes do ataque. É de lá que nós partiremos para o ataque! Agora! Vamos! Pela honra de todas as nossas antepassadas mortas por aqueles monstros!
     Saíram em fila do formigueiro. Foram direto ao ponto marcado. Um cheiro forte assustou as pequenas operárias que vieram à frente. As maiores acharam que elas estavam cambaleando de medo. Sentiram o mesmo mal-estar. Chegaram todas. Procuravam pela Rainha, Com a visão confusa e a cabeça girando, mal podiam sentir a presença das irmãs ao redor…
     - Você cumpriu o trato, nobre inseto.
     Finalmente Elisabant tinha uma vida de rainha. Reino menor. Melhor, estava velha para cuidar de uma família grande. Conheceu belas formigas renomadas e recebia três vezes por dia grãozinhos de açúcar dentro do seu esplendoroso formigueiro de vidro.

 dia f jpeg Terceiro lugar
                                                 Categoria conto adulto
                                         No XXI concurso da ACLE

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