3 de fevereiro de 2011

Corte de paciência

     O volume de voz era maior do que o das discussões normais. Na verdade, nem era uma discussão. Todos concordavam que o resultado das eleições foram insatisfatórios e a campanha fora uma sujeira, como sempre havia sido. Os gritos de “sem-vergonha” e “vagabundo” já estavam em toda frase dita por qualquer um dos dois, na barbearia.
     Eu estava sentado na cadeira, tendo o cabelo cortado. A discussão continuava. Um rapaz passa pela porta e cumprimenta o barbeiro com um “bom dia” e continua andando, sumindo do nosso campo de visão. O cabeleireiro simpático respondeu “bom dia” e no mesmo fôlego “vagabundo sem-vergonha” se referindo a um candidato. Mas isso o jovem não entendeu. Entrou na barbearia e deu um empurrão no cabeleireiro, que deu alguns passos pra trás e se cortou com a navalha. Uma mulher que passava viu o sangue e deu um grito. Quando o cabeleireiro tentou começar a explicar a situação, um senhor que esperava sua vez deu um soco no rapaz, que na força da juventude revidou rapidamente. Os dois estavam agarrados se agredindo quando o cabeleireiro no desespero foi ajudar e cortou o cliente com a navalha. Este, achando que foi o jovem que tinha feito isso (mais gente se amontoava na porta para ver a confusão), esticou a mão pela mesa, pegou uma tesoura e atacou o jovem na barriga. Finalmente conseguiram separar os dois e levaram o garoto para o hospital.
     Meu amigo, sempre tenha muita paciência para que não tenhamos consequências como estas: um jovem (sem muito futuro) com um baita corte na barriga, um senhor (pai de um filho que não vê há três anos) com um leve corte nas costas, um barbeiro (só sei que ele é barbeiro) com um corte no braço, impossibilitado de trabalhar, e, o pior de tudo, um cara (eu) com um corte inacabado tendo que responder a cada pessoa que me pergunta: “o que houve com seu cabelo?” Isso é muito chato!

5 comentários:

  1. Muito bom!!!
    Parabéns pela criatividades de retratar os inevitáveis desencontros e desacertos da vida.

    Bia Tannuri

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  2. É, paciência é uma virtude. EU preciso dela, rs...

    Abraços meu querido!!

    Muito obrigada pelos belos comentários no Marés. NO final de semana responderei tooodos....

    Beeijos

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  3. gente do céu. isso aconteceu de verdade? não, né? bueno, depois tu me conta, vou dar uma olhada nos outros textos (acabei de chegar). ah, e obrigada pelo recadinho no meu blog =) adoro recadinhos. afinal, quem nao gosta?

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  4. Se aconteceu de verdade? Posso dizer que parte da narrativa é baseada em fatos reais.

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