Ele não ia vestir aquilo. Não estava tão calor, nem tão frio. Mas as pessoas estavam todas vestidas com bermudas e camisetas manga-curta. Ele também.
Havia esquecido a jaqueta e o moletom no dia anterior. Foi buscar de bicicleta, a moto estava quebrada. A bicicleta não tinha cestinha ou outro local que ele pudesse colocar as roupas. Não ia vestir aquilo, as pessoas chamariam ele de louco. De bermuda, sandália e de moletom e jaqueta, seria motivo de gozação por um bom tempo.
Decidiu. Colocou as roupas em cima do guidom, assim podia segurar e controlar a bicicleta. Pedalou. Pedalou. Ninguém observava ele. Pedalou. Sentiu-se vitorioso. Pedalou. Não notou uma manga raspando na roda. Pedalou. Acenou para um amigo tirando a mão esquerda do guidom. Caiu. A jaqueta se enrolou na roda e trancou a bicicleta. O amigo veio ajudar. Não riu.
Se recuperou e contou os prejuízos: moletom e jaqueta rasgados, bicicleta quebrada, braços e pernas ralados. Contou os benefícios: ninguém riu dele, não precisaria trabalhar e a mulher daria atenção especial para ele.
A alma não era pequena, valeu causar pena.
18 de janeiro de 2011
Guidom agasalhado
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