18 de janeiro de 2011

Guidom agasalhado

     Ele não ia vestir aquilo. Não estava tão calor, nem tão frio. Mas as pessoas estavam todas vestidas com bermudas e camisetas manga-curta. Ele também.
     Havia esquecido a jaqueta e o moletom no dia anterior. Foi buscar de bicicleta, a moto estava quebrada. A bicicleta não tinha cestinha ou outro local que ele pudesse colocar as roupas. Não ia vestir aquilo, as pessoas chamariam ele de louco. De bermuda, sandália e de moletom e jaqueta, seria motivo de gozação por um bom tempo.
     Decidiu. Colocou as roupas em cima do guidom, assim podia segurar e controlar a bicicleta. Pedalou. Pedalou. Ninguém observava ele. Pedalou. Sentiu-se vitorioso. Pedalou. Não notou uma manga raspando na roda. Pedalou. Acenou para um amigo tirando a mão esquerda do guidom. Caiu. A jaqueta se enrolou na roda e trancou a bicicleta. O amigo veio ajudar. Não riu.
     Se recuperou e contou os prejuízos: moletom e jaqueta rasgados, bicicleta quebrada, braços e pernas ralados. Contou os benefícios: ninguém riu dele, não precisaria trabalhar e a mulher daria atenção especial para ele.
                                                               A alma não era pequena, valeu causar pena.

Nenhum comentário:

Postar um comentário