11 de dezembro de 2010

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     Muitas palavras na nossa linda língua têm uma quantidade de sinônimos e gírias que nos faz pensar. Observe de quantas formas nos referimos ao dinheiro:
     - Trouxesse toda a bufunfa?
     - Cara, eu não tinha todo esse tutu...
     - Mas é quinhentos pila.
     - Vende por quatrocentos pau cara.
     Outras são os órgãos genitais. Tem uma novinha a cada dia, mas a relação da nova palavra e o órgão genital é sempre notável, como também entendemos porque usamos essa infinidade de metáforas – a sociedade muda, fica mais liberal, porém esse assunto é sempre delicado e precisa de um toque da literatura.
     Contudo o conjunto de palavras que chama mais atenção é o da família infernal. Primeiro porque não são metáforas (exceto algumas, como serpente, por exemplo), são sinônimos mesmo. As pessoas dizem que não têm diferença, entretanto quando falamos “diabo” parece alguém poderoso, o inimigo de Deus que vive no inferno, deveria ser sempre com letra maiúscula: Diabo, o Diabo. Já quando falamos “capeta” lembra um diabo moleque. Isso me lembra alguém dizendo (acho que era minha avó) que o capeta é filho do diabo, ou seria do demônio? Ah o demônio – que já virou demonho e dimonho, e até tem nick para sala de bate papo: Demo. Este parece que vive na Terra e que são muitos. Se o Diabo é quem quer dominar o mundo, o capeta apenas um moleque, os demônios são como furacões que estraçalham tudo quando passam, incorporam pessoas... Talvez eu tenha essa impressão por culpa do Demônio da Tasmânia. Talvez não.
     Ainda tem o Tinhoso, que é um malandro esperto. O Satã e seu irmão Satanás que têm um animal de estimação: o Cão. Já ouvi tibinga e tantos outros. O provável é que cada povo tenha dado um nome para seu próprio Coisa-Ruim. Mas o curioso é que as palavras derivadas desses lucíferes são utilizadas com mais freqüência para designar os capetinhas, digo, as crianças:
     - Esse moleque tá endiabrado hoje.
     - Vem cá, demoínho!
     - Que menino tinhoso!
     Então o povo, especialista em literatura do jeito que é, além de criar metáforas todos os dias para os sexos, inventar diversas piadas com sentido ambíguo para pegar o amigo na mesa do bar, usa também a antítese. Dando ao ser mais puro o adjetivo mais... (deixo essa última palavra a sua escolha, caro leitor).

666    1° Lugar
                            Categoria crônica adulto
                   No XXI concurso da ACLE

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